segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Bob Dylan de Sanfona

A dura sinceridade de Like a Rolling Stone a transformou em uma das canções mais contestadoras de todos os tempos. Após quatro décadas da gravação original, Zé Ramalho traduziu os mesmos versos desoladores que Bob Dylan cantara em 1967. Resultado: a versão chamada Como Uma Pedra Rolar é o destaque de um dos melhores lançamentos deste fim de ano, o álbum do cantor nordestino dedicado a músicas do norte-americano.
O recém-lançado Zé Ramalho Canta Bob Dylan já valeria somente pela faixa acima citada. Mas o autor reservou muito mais. Para quem nasceu em Brejo do Cruz, interior da Paraíba, Jackson do Pandeiro é o Mr. Tambourine Man da clássica canção de Dylan. A citação ao sambista, conterrâneo de Zé, mostra que na linguagem universal da música não há barreiras entre a obra cosmopolita de Dylan e o regionalismo da canção nordestina.
E é trocando a gaita de boca do americano pela sanfona do forró que Zé Ramalho constrói um disco autêntico, à altura de um tributo ao maior poeta do rock. Mesmo quando vai pelo caminho mais simples, o álbum funciona. Negro Amor é uma regravação da já conhecida versão de Caetano Veloso para It’s All Over Now, Baby Blue, enquanto que If Not For You, gravada também por George Harrison, foi registrada em inglês mesmo.
Produzido por Robertinho do Recife e lançado pela EMI, o CD prioriza as canções antigas de Dylan – embora Tá Tudo Mudando seja uma versão para Things Have Changed, que em 2000 rendeu ao compositor um Oscar pela trilha do filme Garotos Incríveis. Tudo bem, as versões são praticamente traduções literais dos originais. Mas se há um compositor com autoridade suficiente para traduzir a obra Dylan, esse alguém é Zé Ramalho.


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