Zé Ramalho

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Sotaque Paraibano


Depois de celebrar Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Bob Dylan, Zé Ramalho canta Beatles em seu novo CD. Homenagem se soma à discografia brasileira do Fab Four
É virtualmente impossível que algum músico tenha atravessado os últimos 50 anos sem ter escutado alguma criação dos Beatles. Independente de gostar ou não da obra do quarteto de Liverpool, ninguém pode negar a importância das canções de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, até os dias de hoje.

Na Jovem Guarda, Márcio Greyck, Ronnie Von e Renato e Seus Blue Caps, para citar apenas alguns, fizeram sucesso a partir de versões de clássicos dos Fab Four. Mais tarde, na Tropicália, é inconfundível a inclinação musical de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Os Mutantes para o cancioneiro mais experimental da banda.

Da geração mineira do Clube da Esquina, são fã e devedores da música dos Beatles, Beto Guedes, Milton Nascimento, Toninho Horta e Lô Borges. Do Pessoal do Ceará, os cearenses Ednardo, Fagner, Falcão e principalmente Belchior, se proclamam também seguidores do grupo. Citamos também o guitarrista Régis Damasceno, integrante do Cidadão Instigado, que tocou, em Fortaleza, na banda cover Rubber Soul. Os pernambucanos Alceu Valença e Geraldo Azevedo, apesar de defenderem a cultura da região, também louvam as inesquecíveis composições interpretadas por Lennon, McCartney, Harrison e Starr.

Beatlemaníaco
No panteão da MPB, o paraibano Zé Ramalho é, certamente, um dos admiradores mais constantes do cancioneiro dos Beatles. Admiração que motivou-lhe na gravação de seu álbum mais recente, "Zé Ramalho canta Beatles", disco que reúne versões das músicas do quarteto e de trabalhos solo de seus integrantes.

Antes dele, no entanto, o compositor já havia vertido para o português músicas de Lennon e McCartney. Em seu sexto álbum "Pra Não Dizer que Não Falei de Rock" (1984), "The fool on the hill" virou "O tolo da colina". Três anos depois, no disco "Décimas de um cantador", ele também traria para o português "This boy", que se tornou "Ser boy". Num tributo coletivo à John Lennon de 2001, registrou uma versão de "God".

Zé Ramalho também fez uma referência à banda na capa de "Nação nordestina" (2000): a arte imitava a do antológico álbum "Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band" (1967), substituindo os personagens históricos que figuram no original por figuras da música e da história do Nordeste, como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Fagner, Naná Vasconcelos, João do Vale, Hermeto Pascoal, Padre Cícero e Lampião.

Participando em algumas coletâneas referentes aos Beatles no Selo Discobertas, idealizadas por Marcelo Fróes, Zé Ramalho também emprestou sua voz para "In my life" (2000) para o projeto "Submarino Verde e Amarelo", show de homenagens das bandas e cantores brasileiros ao conjunto britânico que saiu em CD e DVD pela gravadora Som Livre e também foi exibido pelo Multishow, canal de TV por assinatura.

Influências
As primeiras incursões do novo álbum de Zé Ramalho aconteceram a partir dessas participações coletivas. Por conta de outros trabalhos, só agora o CD está saindo. O novo disco de Zé Ramalho, traz dez composições da banda inglesa, de 1962 até 1970, e mais seis criações individuais de John, Paul, George e Ringo.

O artista já havia lançado tributos para Raul Seixas, Bob Dylan, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Projetos aos quais tem dado destaque. Tanto que seu último álbum de inéditas, "Parceria dos viajantes", saiu há quatro anos.

Sobre a importância do trabalho deles, o compositor paraibano diz que todos os músicos da sua geração devem ter crescido um pouco no seu currículo e na sua aprendizagem, com os Beatles. "Eles são as melhores matrizes da música pop", afirma.

Recordando como ouviu pela primeira vez os Beatles, Zé Ramalho diz emocionado: "Um cara nordestino, com 15 ou 16 anos, como eu, teria tudo para ser um sanfoneiro ou virar um violeiro. Até então eu nunca tinha tocado um instrumento. Quando escutei numa rádio AM a música ´I want to hold your hand´, eu parei automaticamente. Naquela idade, ´inocente, puro e besta´, como disse o Raul Seixas, nunca havia escutado uma coisa daquela entrar no meu ouvido e provocar o que senti. Era uma música muito diferente que me magnetizou imediatamente".

Além da emoção que a música causou no então adolescente, o impacto fez Zé Ramalho tomar um decisão em sua vida: "foi uma coisa tão forte que imediatamente me deu uma vontade, uma necessidade de procurar tocar um instrumento. A base da minha formação musical são esses caras, os Rolling Stones e a Jovem Guarda. São os responsáveis por minha formação musical primeiramente. Depois, fui crescendo e descobrindo as raízes maravilhosas e poderosas da minha região".

Quando se refere ao começo de sua carreira musical, o paraibano recorda com carinho ter feito parte de grupos de bailes que "´empestavam´ em todos os lugares". "Toquei em bandas como ´Os Quatro Loucos´ e "The Gentleman", nas quais fazíamos festas enormes para as pessoas dançarem, que duravam quatro horas. Eu era o guitarrista e nessas ocasiões sempre tinha o momento Beatles e também as versões feitas pelos cantores e grupos da jovem guarda, os quais também foram responsáveis por espalhar a música dos Beatles", relembra.

Zé Ramalho afirma que esse tempo também serviu para exercitar seu modo de tocar, como os Beatles fizeram em suas temporadas antes da fama em Hamburgo na Alemanha. "Isso tudo me deixou uma herança musical muito grande. Essa coisa de tocar, praticar as músicas deles. De tanto ouvir e tocar as músicas dessa banda, você absorve de tal forma, que entra na sua mente e no sangue e você não esquece. Isso possibilita, a partir do momento que você pratica o instrumento, no meu caso, o violão e a viola, procurar formatar de alguma forma original, a minha interpretação para as músicas deles".

Sotaque
Para o cantor, apesar das músicas compostas por John, Paul, George e Ringo terem sido composta na década de 60, melodias, harmonias e letras continuam atuais. "Gravar a música dos Beatles é uma coisa que artistas do mundo inteiro fazem. Então, eu, como nordestino e sem a mínima vergonha de cantar em inglês, gravei essas canções deles com um sentimento profundo, ainda vindo da época que ouvi pela primeira vez. O sotaque nordestino está presente no meu inglês. Não faço nenhuma pronúncia britânica e nem procurei fazê-la em momento algum", conta. "Colocar sanfonas pelo músico Dodô de Moraes que é genial na sua indumentária de sanfoneiro, me ajudou muito a dar uma originalidade às canções dos Beatles", afirma.

Satisfeito pelo resultado do novo CD como produto final, o artista celebra o álbum dizendo ter a condição, hoje em dia, de realizar esses projetos dessa linha de discos "Zé Ramalho Canta" está sendo uma coisa muito valiosa. "Estou muito feliz porque estou mostrando também o meu lado de intérprete. Esse, dos Beatles, são gravações simples, mas, nem por isso deixam de ser valiosas. Algumas pelo tempo que foram gravadas e começaram em 2001 e outras mais recentes, incluídas em projetos que já foram realizados. Juntamos todos esses fonogramas e completamos com essas versões atuais".

O disco "Zé Ramalho canta Beatles" deveria ter sido o primeiro projeto da série, segundo seu autor. O músico não receia as críticas dos puristas quanto ao seu sotaque nordestinos nem ao fato de, por exemplo, transformar o sinfônica "A day in the life" num xote, ou modificar a clássica "While my guitar gently weeps" para um galope acelerado, tudo com muita sanfona e zabumba. "Você não dever ter medo dessa coisa. Para realizar um projeto desse você tem de ter coragem, além do conhecimento e colocar isso como um produto para ser consumido e vendido. O disco veio cristalizar essa mostra de reverência e gratidão que eu tenho para com esses caras que tanto me inspiraram e continuam inspirando tanta gente pelo mundo afora", defende Zé Ramalho.

Nelson Augusto

www.diariodonordeste.com

domingo, 4 de setembro de 2011

Psicodelia à Brasileira

Inscrições rupestres misteriosas, mitos indigenas, boas doses de psicodelia, uma busca para reconstruir as obscuras origens de uma lenda da música brasileira... O roteiro tem elementos que parecem moldados para a ficção, algo como um Indiana Jones lisérgico. Mas "Nas Paredes da Pedra Encantada", filme de Cristiano Bastos e Leonardo Bonfim. é um documentário - um "road doc", como define Cristiano - que investiga a história do rarissimo disco "Paêbiru: Caminho da Montanha do Sol", de Zé Ramalho e Lula Côrtes, lançado em 1975.
Há vários motivos para se falar de "Paêbiru" - defende Cristiano. - É o disco mais caro do Brasil, sua última cotação está entre R$ 4 mil e R$ 5 mil, o dobro do "Louco por Você", o primeiro de Roberto Carlos (existe uma edição pirata, em vinil, de "Paêbiru", lançada na Europa, mas que não vem com o livro que acompanhava o original, trazendo estudos sobre a região e informações sobre a lenda do Caminho da Montanha do Sol). Mais que a raridade, ele é o fundador de uma psicodelia genuinamente brasileira, com elementos da cultura indigena. E a sua história tem toda uma mistica. Das únicas 1.300 cópias da prensagem original, 1.000 foram perdidas numa enchente em Recife. Nunca vi uma história tão fantástica como a que circunda esse álbum.
Jornalista, Cristiano tomou contato com a fantástica história quando fez uma reportagem para a revista "Rolling Stone" sobre o disco. Quando percebeu que sua apuração poderia render um documentário, se lançou com Leonardo Bonfim na aventura de tentar reconstruir os fatores que permitiram o surgimento do álbum. O termo "aventura" não é exagero, Cristiano morou entre Pernambuco e Paraíba por três meses, investiu dinheiro do seu bolso no filme - atualmente em fase de montagem - e penou para encontrar seus personagens. Mais que isso, quase foi preso durante as filmagens:
- Estávamos na cidade do Ingá do Bacamarte (município da Paraíba onde se localiza a Pedra do Ingá, onde estavam as inscrições que serviram de estopim para o processo criativo que gerou o disco) quando a policia nos abordou, com vários carros e armas apontadas para nós. Estava havendo uma onda de assaltos a bancos na região, e eles, vendo aquele grupo andando de um lado para o outro e fazendo ligações, acharam que éramos ladrões. Tivemos que ser libertados pelo próprio prefeito, que já sabia do projeto e inclusive colaborou com dinheiro para as filmagens.
O filme - ao qual O GLOBO teve acesso exclusivo - traz entrevistas com personagens como os músicos Lula Côrtes e Alceu Valença (que toca no disco), o arqueólogo Raul Córdula (que apresentou a Pedra do Ingá a Lula e Zé Ramalho) e a cineasta Kátia Mesel (companheira de Lula então e sósia no selo Abrakadabra, que lançou o disco). As gravações registram muitos momentos musicais espontâneos e até cenas que reforçam as lendas em torno do disco.
- Cada lado do álbum duplo de "Paêbiru" tem um conceito: fogo, terra, ar e água. Cada um tem uma sonoridade. Fogo é o lado mais roqueiro, ar são músicas mas étereas... No lado da água tem uma parte que faz louvações à Iemanjá. No filme, quando Kátia Mesel canta isso. começa a chover - narra Cristiano, que alimenta mais um tanto a música ao dedicar o filme ao Deus Sumé (parte da mitologia de "Paêbiru").
Zé Ramalho - que até hoje visita a Pedra e acredita que extraterrestres estão por trás de suas inscrições - não dá depoimento para o filme. Mas autorizou os diretores a usar todas as músicas para contar a história.
- Existe uma ruga entre Zé Ramalho e Lula, e Zé preferiu não falar sobre o álbum. Mas todos no filme falam dele com muito carinho - nota Cristiano. - Apesar de negar a entrevista, Zé foi muito gente fina, fez um documento liberando a música... Só não queria ter a imagem dele hoje no filme. Ele pergunta por que não falaram do disco quando ele foi lançado (o álbum foi completamente ignorado na época). Aquilo foi muito decepcionante. Além de tudo, Zé Ramalho considera a obra que ele fez solo, posteriormente, muito mais importante. Como o disco tinha um aspecto coletivo, ele ali não tem o peso de ser o postador da mensagem, é só mais uma das vozes.
Mesmo antes da finalização, os diretores já receberam convites para apresentar o filme em festivais.
- Nosso desejo é estrear no "É Tudo Verdade" - diz Cristiano. - Seria ótimo também ter a exibição na TV, num espaço como o Canal Brasil.
Eles contam com a força da história. E os poderes de Sumé.
Leonardo Lichote
Jornal O Globo

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Impressões do Disco Zé Ramalho Canta Beatles

O novo CD de Zé Ramalho é resultado de um projeto iniciado no final dos anos noventa, quando Zé iniciou as gravações do que seria o seu primeiro álbum de intérprete de uma série que já conta com títulos dedicados à Raul Seixas, Luiz Gonzaga, Bob Dylan e Jackson do Pandeiro.
Mais de dez anos depois, Zé finalmente presta a sua homenagem ao quarteto de Liverpool com uma série de dez regravações do cancioneiro dos Fab Four, incluindo como bônus seis regravações de canções da carreira solo de John, Paul, George e Ringo, o que acaba transformando o álbum em um presente conjunto para fãs de Zé Ramalho e dos Beatles.O disco apresenta uma coleção de momentos de admiráveis interpretações do cantor paraibano, onde o mesmo imprime a sua marca em consagradas canções dos Beatles que o cantor escolheu para pôr no disco.Desta forma, como revela Zé no encarte do disco, canções que lhe chamaram a atenção na época de lançamento e que estão entre as suas prediletas, como “The Long and Widing Road”, “While My Guitar Gently Weeps” e “Dear Prudence”, ganharam vaga no repertório do álbum.O disco traz canções de várias sessões espalhadas ao longo desses doze anos de projeto, e vários destaques. Entre as gravações realizadas este ano, o medley “Golden Slumbers / Carry That Wait”, foi escolhido para abrir o disco, de forma forte e tensa, explorando principalmente o pesado refrão a segunda parte do medley.Canções como “If I Fell” e “I Need You” ganham uma produção com mais retoques, incluindo, no caso da segunda, um belo arranjo que chega a lembrar a versão feita por Tom Petty para o especial “Concert for George” de 2002.Como não poderia deixar de ser, algumas canções ganharam o sotaque nordestino que Zé Ramalho - amparado por Dodô Moraes, responsável por teclados, sanfonas, samplers e programações - sabe fazer como ninguém, corroborando a beleza e a musicalidade, ora implícita, ora explícita, das canções dos Beatles. Entre elas “In My Life”, “Dear Prudence”, “While My Guitar Gently Weeps” (que ganhou um divertido vídeo-clipe) e a segunda parte de “A Day in The Life”, um das melhores faixas desse disco.Zé Ramalho acerta novamente ao reler artistas relevantes em sua formação, no caso dos Beatles, relevante na formação de quase todos artistas que surgiram após o mundo conhecer seu trabalho.

Anderson Nascimento

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Zé Ramalho Canta Beatles

  1. GOLDEN SLUMBERS
  2. CARRY THAT WEIGHT
  3. IF I FELL
  4. I NEED YOU
  5. IN MY LIFE
  6. A DAY IN THE LIFE
  7. YOUR MOTHER SHOULD KNOW
  8. DEAR PRUDENCE
  9. WHILE MY GUITAR GENTLY WEEPS
  10. THE LONG AND WINDING ROAD
  11. BEWARE OF DARKNESS
  12. ISN’T A PITY
  13. GOD
  14. JEALOUS GUY
  15. ANOTHER DAY
  16. IT DON’T COME EASY

domingo, 31 de julho de 2011

While My Guitar Gently Weeps

O Clipe de divulgação do Cd Zé Ramalho Canta Beatles que vai ser lançado em Agosto

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