sábado, 18 de outubro de 2008

Ao Profeta


Eu deveria ter uns doze ou treze anos quando meu pai comprou a então versão em vinil em compacto daquela música chamada Avohai. O outro lado do disquinho era Vila do Sossego. Meus pais adoravam as músicas e perdi a conta das vezes em que a colocavam para tocar durante uma semana. Eu ficava ouvindo aquele som diferente e aquela letra estranha, mas enigmática mas hipnótica, mesmo para a pouca idade que contava naquela época.

O cantor daquelas músicas volta e meio aparecia nos programas da televisão existentes naqueles idos, e lembro vagamente que ficávamos assitindo entre encantados e embasbacados. Era um cantor e compositor paraibano muito estranho, pelo menos para os padrões vigentes na mentalidade do povo brasileiro de então. Uma figura muito exótica na sua apresentação - algo semelhante a um hippie remanescente dos idos de sessenta. Ou seria setenta?

Com o passar dos anos fomos vivendo e acompanhando volta e meia as novidades músicais do Zé Ramalho que em muitas vezes era denominado com o codinome de Profeta da Paraiba, dado o teor mistico e surreal das suas composições. E por causa daquela primeira Avohai nunca mais pude me desprender da obra musical sem paralelo no nosso país, daquel tal Profeta.

E com o passar dos anos pude também visitar a terra de origem deste Profeta - como aliás acabo de fazer com a familia pela terceira vez! E pude compreender melhor de onde vinha a inspiração daquela música do outro mundo. Pude emergir no espirito da canção Beira-Mar, onde ele diz em duas versões que entende "(...) a noite como um oceano que banha de sombras um mundo de sol aurora que luta por um arrebol, de cores vibrantes e ar soberano(...)".Pude compreender que nasceu da magia daquela natureza paradisiaca o fôlego de versos como "(...) pode ser que ninguém me compreenda/quando digo que sou visionário(...) mas a mente talvez não me atenda/se eu quiser novamente retornar para um mundo de leis me obrigar/a lutar pelo erro do engano/eu prefiro um galope soberano/a loucura do mundo me entregar."

Ainda bem que Zé Ramalho não se entregou à loucura do mundo - assim como a prodigiosa natureza paradisiaca da Paraiba. Ainda bem que o mar por lá - limpo, morno, manso, cristalino e hipnótico, com os seus coqueirais a perder de vista e a sua areia branca, a tranquilidade imanente naquelas praias sem fim: o calor humano do povo de João Pessoa indicativo da religiosidade merente no próprio lugar - insistem - ainda! - em se manter os mesmos.

De uma terra como aquela só poderiam brotar profetas! Profetas da beleza impar da melodia e da palavra, da poesia profunda e transcedente. Artistas transmissores do autêntico espírito da paz tão escasso nos nossos dias, e do qual anda a humanidade tão sedenta em meio a desastres, desespero, e caos aéreos sem explicação plausível em meio as stress crônico e desassossegado peculiar ao ultra povoamento das cidades do sul!

Eu demorei a prestar esta homenagem, talvez que também gerado e vinda à luz como uma flor! Como aquele belo girassol à beira-mar na praia do Cabo Branco, ornando como jóia rara o panorama divino de João Pessoa que nos presenteia o espírito e os olhos cansados com inigualável reconforto originado nas fontes celestiais!

Obrigado a este pequeno e insuspeitado pedaço dos céus baixado à Terra e às terras brasileiras por esta oferta de luz impagável dos nossos seres! Obrigada por nos presentear com o perfume dos ares puros, com o idílio visual das suas paisagens verdes e inigualáveis , com o calor humano do seu povo!

E obrigado por ter nascido, da tranqüilidade destas paragens de vastos e mansos mares verdes, de águas tépidas, para nós – e para o supremo encanto do nosso espírito! O soberano Zé Ramalho, com a maravilha da sua obra poética e musical!

 Obrigada ao nosso Profeta da Paraiba!

 Com amor

 Cristina Nunes

 Fonte:

 http://recantodasletras.uol.com.br

http://ocaricato.zip.net/

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Discografia Completa

Neste link abaixo você consegue baixar todos os discos.



http://cinemusika.blogspot.com/2008/08/discografia-z-ramalho.html

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Agreste Psicodélico


No dia 29 de dezembro de 1598, os soldados liderados pelo capitão-mor da Paraíba, Feliciano Coelho de Carvalho, encalçavam índios potiguares quando, em meio à caatinga, nas fraldas da Serra da Copaoba (Planalto de Borborema), um imponente registro de ancestralidade pré-histórica se impôs à tropa. Às margens do leito seco do rio Araçoajipe, um enorme monólito revelava, aos estupefatos recrutas, estranhos desenhos esculpidos na rocha cristalina.

O painel rupestre se encontrava nas paredes internas de uma furna (formada pela sobreposição de três rochas), e exibia, em baixo-relevo, caracteres deixados por uma cultura há muito extinta. Os sinais agrupavam-se às representações de espirais, cruzes e círculos talhados, também, na plataforma inferior do abrigo rochoso.

Inquietado com a descoberta, Feliciano ordenou minuciosa medição, mandando copiar todos os caracteres. A ocorrência está descrita em Diálogos das Grandezas do Brasil, obra editada em 1618. O autor, Ambrósio Fernandes Brandão (para quem Feliciano Coelho confiou seu relato), interpretou os símbolos como “figurativos de coisas vindouras”. Não se enganara. O padre francês Teodoro de Lucé descobriu, em 1678, no território paraibano, um segundo monólito, ao se dirigir em missão jesuítica para o arraial de Carnoió. Seus relatos foram registrados em Relação de uma Missão do rio São Francisco, escrito pelo frei Martinho de Nantes, em 1706.

Em 1974, quase 400 anos depois da descoberta do capitão-mor da Paraíba, os tais “símbolos de coisas vindouras” regressariam. Dessa vez, no formato e silhueta arredondada de um disco de vinil. A mais ambiciosa e fantástica incursão psicodélica da música brasileira – o LP Paêbirú: Caminho da Montanha do Sol, gravado de outubro a dezembro daquele ano por Lula Côrtes e Zé Ramalho, nos estúdios da gravadora recifense Rozemblit.

Contar a história do álbum, longe da amálgama das pessoas, vertentes sonoras e, especialmente, da chamada Pedra do Ingá que o inspirou, é impossível. Irônico é que o LP original de Paêbirú também tenha se convertido em “achado arqueológico”, assim como a pedra, 33 anos depois de seu lançamento. As histórias sobre a produção do disco, como naufragou na enchente que submergiu Recife, em 1975 e, por fim, se salvara, são fascinantes.

A prensagem de Paêbirú foi única: 1.300 cópias. Mil delas, literalmente, foram por água abaixo. A calamidade levou junto a fita master do disco para que a tragédia ficasse quase completa. Milagrosamente a salvos ficaram somente 300 exemplares. Bem conservado, o vinil original de Paêbirú (o selo inglês Mr Bongo o relançou em vinil este ano) está atualmente avaliado em mais de R$ 4 mil. É o álbum mais caro da música brasileira. Desbanca, em parâmetros monetários (e sonoros: é discutível), o “inatingível” Roberto Carlos. O Rei amarga segundo lugar com Louco por Você, primeiro de sua carreira, avaliado na metade do preço do “excêntrico” Paêbirú.

A expedição no rastro dos mistérios e fábulas de Paêbirú se inicia em Olinda (Pernambuco). O artista plástico paraibano Raul Córdula me recebe em seu ateliêr. Na parede do sobrado histórico, uma cobra pictográfica serpenteia no quadro pintado por ele. A insígnia foi decalcada da mesma inscrição que, há milênios, permanece entalhada na Pedra do Ingá.

No mesmo ano de Louco por Você, 1961, o professor de geografia Leon Clerot apresentou o monumento a Córdula. O professor fizera o convite: “Me acompanhe, e verás algo que jamais se esquecerá”. Uma década depois, 1972, Raul Córdula se tornou amigo de José Ramalho Neto, o jovem Zé Ramalho da Paraíba. Os conterrâneos se conheceram no bar Asa Branca, que Córdula tinha na capital, João Pessoa: “O único boteco que ficava aberto na Paraíba inteira depois das oito horas da noite, à base de ‘mensalão’ pago à polícia”. O Zé Ramalho compositor, atesta, nascera no Asa Branca.

Cristiano Bastos

http://www.rollingstone.com.br

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O Que é Simpatia

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