Depois de celebrar Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Bob Dylan, Zé Ramalho canta Beatles em seu novo CD. Homenagem se soma à discografia brasileira do Fab Four
É virtualmente impossível que algum músico tenha atravessado os últimos 50 anos sem ter escutado alguma criação dos Beatles. Independente de gostar ou não da obra do quarteto de Liverpool, ninguém pode negar a importância das canções de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, até os dias de hoje.
Na Jovem Guarda, Márcio Greyck, Ronnie Von e Renato e Seus Blue Caps, para citar apenas alguns, fizeram sucesso a partir de versões de clássicos dos Fab Four. Mais tarde, na Tropicália, é inconfundível a inclinação musical de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Os Mutantes para o cancioneiro mais experimental da banda.
Da geração mineira do Clube da Esquina, são fã e devedores da música dos Beatles, Beto Guedes, Milton Nascimento, Toninho Horta e Lô Borges. Do Pessoal do Ceará, os cearenses Ednardo, Fagner, Falcão e principalmente Belchior, se proclamam também seguidores do grupo. Citamos também o guitarrista Régis Damasceno, integrante do Cidadão Instigado, que tocou, em Fortaleza, na banda cover Rubber Soul. Os pernambucanos Alceu Valença e Geraldo Azevedo, apesar de defenderem a cultura da região, também louvam as inesquecíveis composições interpretadas por Lennon, McCartney, Harrison e Starr.
Beatlemaníaco
No panteão da MPB, o paraibano Zé Ramalho é, certamente, um dos admiradores mais constantes do cancioneiro dos Beatles. Admiração que motivou-lhe na gravação de seu álbum mais recente, "Zé Ramalho canta Beatles", disco que reúne versões das músicas do quarteto e de trabalhos solo de seus integrantes.
Antes dele, no entanto, o compositor já havia vertido para o português músicas de Lennon e McCartney. Em seu sexto álbum "Pra Não Dizer que Não Falei de Rock" (1984), "The fool on the hill" virou "O tolo da colina". Três anos depois, no disco "Décimas de um cantador", ele também traria para o português "This boy", que se tornou "Ser boy". Num tributo coletivo à John Lennon de 2001, registrou uma versão de "God".
Zé Ramalho também fez uma referência à banda na capa de "Nação nordestina" (2000): a arte imitava a do antológico álbum "Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band" (1967), substituindo os personagens históricos que figuram no original por figuras da música e da história do Nordeste, como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Fagner, Naná Vasconcelos, João do Vale, Hermeto Pascoal, Padre Cícero e Lampião.
Participando em algumas coletâneas referentes aos Beatles no Selo Discobertas, idealizadas por Marcelo Fróes, Zé Ramalho também emprestou sua voz para "In my life" (2000) para o projeto "Submarino Verde e Amarelo", show de homenagens das bandas e cantores brasileiros ao conjunto britânico que saiu em CD e DVD pela gravadora Som Livre e também foi exibido pelo Multishow, canal de TV por assinatura.
Influências
As primeiras incursões do novo álbum de Zé Ramalho aconteceram a partir dessas participações coletivas. Por conta de outros trabalhos, só agora o CD está saindo. O novo disco de Zé Ramalho, traz dez composições da banda inglesa, de 1962 até 1970, e mais seis criações individuais de John, Paul, George e Ringo.
O artista já havia lançado tributos para Raul Seixas, Bob Dylan, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Projetos aos quais tem dado destaque. Tanto que seu último álbum de inéditas, "Parceria dos viajantes", saiu há quatro anos.
Sobre a importância do trabalho deles, o compositor paraibano diz que todos os músicos da sua geração devem ter crescido um pouco no seu currículo e na sua aprendizagem, com os Beatles. "Eles são as melhores matrizes da música pop", afirma.
Recordando como ouviu pela primeira vez os Beatles, Zé Ramalho diz emocionado: "Um cara nordestino, com 15 ou 16 anos, como eu, teria tudo para ser um sanfoneiro ou virar um violeiro. Até então eu nunca tinha tocado um instrumento. Quando escutei numa rádio AM a música ´I want to hold your hand´, eu parei automaticamente. Naquela idade, ´inocente, puro e besta´, como disse o Raul Seixas, nunca havia escutado uma coisa daquela entrar no meu ouvido e provocar o que senti. Era uma música muito diferente que me magnetizou imediatamente".
Além da emoção que a música causou no então adolescente, o impacto fez Zé Ramalho tomar um decisão em sua vida: "foi uma coisa tão forte que imediatamente me deu uma vontade, uma necessidade de procurar tocar um instrumento. A base da minha formação musical são esses caras, os Rolling Stones e a Jovem Guarda. São os responsáveis por minha formação musical primeiramente. Depois, fui crescendo e descobrindo as raízes maravilhosas e poderosas da minha região".
Quando se refere ao começo de sua carreira musical, o paraibano recorda com carinho ter feito parte de grupos de bailes que "´empestavam´ em todos os lugares". "Toquei em bandas como ´Os Quatro Loucos´ e "The Gentleman", nas quais fazíamos festas enormes para as pessoas dançarem, que duravam quatro horas. Eu era o guitarrista e nessas ocasiões sempre tinha o momento Beatles e também as versões feitas pelos cantores e grupos da jovem guarda, os quais também foram responsáveis por espalhar a música dos Beatles", relembra.
Zé Ramalho afirma que esse tempo também serviu para exercitar seu modo de tocar, como os Beatles fizeram em suas temporadas antes da fama em Hamburgo na Alemanha. "Isso tudo me deixou uma herança musical muito grande. Essa coisa de tocar, praticar as músicas deles. De tanto ouvir e tocar as músicas dessa banda, você absorve de tal forma, que entra na sua mente e no sangue e você não esquece. Isso possibilita, a partir do momento que você pratica o instrumento, no meu caso, o violão e a viola, procurar formatar de alguma forma original, a minha interpretação para as músicas deles".
Sotaque
Para o cantor, apesar das músicas compostas por John, Paul, George e Ringo terem sido composta na década de 60, melodias, harmonias e letras continuam atuais. "Gravar a música dos Beatles é uma coisa que artistas do mundo inteiro fazem. Então, eu, como nordestino e sem a mínima vergonha de cantar em inglês, gravei essas canções deles com um sentimento profundo, ainda vindo da época que ouvi pela primeira vez. O sotaque nordestino está presente no meu inglês. Não faço nenhuma pronúncia britânica e nem procurei fazê-la em momento algum", conta. "Colocar sanfonas pelo músico Dodô de Moraes que é genial na sua indumentária de sanfoneiro, me ajudou muito a dar uma originalidade às canções dos Beatles", afirma.
Satisfeito pelo resultado do novo CD como produto final, o artista celebra o álbum dizendo ter a condição, hoje em dia, de realizar esses projetos dessa linha de discos "Zé Ramalho Canta" está sendo uma coisa muito valiosa. "Estou muito feliz porque estou mostrando também o meu lado de intérprete. Esse, dos Beatles, são gravações simples, mas, nem por isso deixam de ser valiosas. Algumas pelo tempo que foram gravadas e começaram em 2001 e outras mais recentes, incluídas em projetos que já foram realizados. Juntamos todos esses fonogramas e completamos com essas versões atuais".
O disco "Zé Ramalho canta Beatles" deveria ter sido o primeiro projeto da série, segundo seu autor. O músico não receia as críticas dos puristas quanto ao seu sotaque nordestinos nem ao fato de, por exemplo, transformar o sinfônica "A day in the life" num xote, ou modificar a clássica "While my guitar gently weeps" para um galope acelerado, tudo com muita sanfona e zabumba. "Você não dever ter medo dessa coisa. Para realizar um projeto desse você tem de ter coragem, além do conhecimento e colocar isso como um produto para ser consumido e vendido. O disco veio cristalizar essa mostra de reverência e gratidão que eu tenho para com esses caras que tanto me inspiraram e continuam inspirando tanta gente pelo mundo afora", defende Zé Ramalho.
Nelson Augusto
É virtualmente impossível que algum músico tenha atravessado os últimos 50 anos sem ter escutado alguma criação dos Beatles. Independente de gostar ou não da obra do quarteto de Liverpool, ninguém pode negar a importância das canções de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, até os dias de hoje.
Na Jovem Guarda, Márcio Greyck, Ronnie Von e Renato e Seus Blue Caps, para citar apenas alguns, fizeram sucesso a partir de versões de clássicos dos Fab Four. Mais tarde, na Tropicália, é inconfundível a inclinação musical de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Os Mutantes para o cancioneiro mais experimental da banda.
Da geração mineira do Clube da Esquina, são fã e devedores da música dos Beatles, Beto Guedes, Milton Nascimento, Toninho Horta e Lô Borges. Do Pessoal do Ceará, os cearenses Ednardo, Fagner, Falcão e principalmente Belchior, se proclamam também seguidores do grupo. Citamos também o guitarrista Régis Damasceno, integrante do Cidadão Instigado, que tocou, em Fortaleza, na banda cover Rubber Soul. Os pernambucanos Alceu Valença e Geraldo Azevedo, apesar de defenderem a cultura da região, também louvam as inesquecíveis composições interpretadas por Lennon, McCartney, Harrison e Starr.
Beatlemaníaco
No panteão da MPB, o paraibano Zé Ramalho é, certamente, um dos admiradores mais constantes do cancioneiro dos Beatles. Admiração que motivou-lhe na gravação de seu álbum mais recente, "Zé Ramalho canta Beatles", disco que reúne versões das músicas do quarteto e de trabalhos solo de seus integrantes.
Antes dele, no entanto, o compositor já havia vertido para o português músicas de Lennon e McCartney. Em seu sexto álbum "Pra Não Dizer que Não Falei de Rock" (1984), "The fool on the hill" virou "O tolo da colina". Três anos depois, no disco "Décimas de um cantador", ele também traria para o português "This boy", que se tornou "Ser boy". Num tributo coletivo à John Lennon de 2001, registrou uma versão de "God".
Zé Ramalho também fez uma referência à banda na capa de "Nação nordestina" (2000): a arte imitava a do antológico álbum "Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band" (1967), substituindo os personagens históricos que figuram no original por figuras da música e da história do Nordeste, como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Fagner, Naná Vasconcelos, João do Vale, Hermeto Pascoal, Padre Cícero e Lampião.
Participando em algumas coletâneas referentes aos Beatles no Selo Discobertas, idealizadas por Marcelo Fróes, Zé Ramalho também emprestou sua voz para "In my life" (2000) para o projeto "Submarino Verde e Amarelo", show de homenagens das bandas e cantores brasileiros ao conjunto britânico que saiu em CD e DVD pela gravadora Som Livre e também foi exibido pelo Multishow, canal de TV por assinatura.
Influências
As primeiras incursões do novo álbum de Zé Ramalho aconteceram a partir dessas participações coletivas. Por conta de outros trabalhos, só agora o CD está saindo. O novo disco de Zé Ramalho, traz dez composições da banda inglesa, de 1962 até 1970, e mais seis criações individuais de John, Paul, George e Ringo.
O artista já havia lançado tributos para Raul Seixas, Bob Dylan, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Projetos aos quais tem dado destaque. Tanto que seu último álbum de inéditas, "Parceria dos viajantes", saiu há quatro anos.
Sobre a importância do trabalho deles, o compositor paraibano diz que todos os músicos da sua geração devem ter crescido um pouco no seu currículo e na sua aprendizagem, com os Beatles. "Eles são as melhores matrizes da música pop", afirma.
Recordando como ouviu pela primeira vez os Beatles, Zé Ramalho diz emocionado: "Um cara nordestino, com 15 ou 16 anos, como eu, teria tudo para ser um sanfoneiro ou virar um violeiro. Até então eu nunca tinha tocado um instrumento. Quando escutei numa rádio AM a música ´I want to hold your hand´, eu parei automaticamente. Naquela idade, ´inocente, puro e besta´, como disse o Raul Seixas, nunca havia escutado uma coisa daquela entrar no meu ouvido e provocar o que senti. Era uma música muito diferente que me magnetizou imediatamente".
Além da emoção que a música causou no então adolescente, o impacto fez Zé Ramalho tomar um decisão em sua vida: "foi uma coisa tão forte que imediatamente me deu uma vontade, uma necessidade de procurar tocar um instrumento. A base da minha formação musical são esses caras, os Rolling Stones e a Jovem Guarda. São os responsáveis por minha formação musical primeiramente. Depois, fui crescendo e descobrindo as raízes maravilhosas e poderosas da minha região".
Quando se refere ao começo de sua carreira musical, o paraibano recorda com carinho ter feito parte de grupos de bailes que "´empestavam´ em todos os lugares". "Toquei em bandas como ´Os Quatro Loucos´ e "The Gentleman", nas quais fazíamos festas enormes para as pessoas dançarem, que duravam quatro horas. Eu era o guitarrista e nessas ocasiões sempre tinha o momento Beatles e também as versões feitas pelos cantores e grupos da jovem guarda, os quais também foram responsáveis por espalhar a música dos Beatles", relembra.
Zé Ramalho afirma que esse tempo também serviu para exercitar seu modo de tocar, como os Beatles fizeram em suas temporadas antes da fama em Hamburgo na Alemanha. "Isso tudo me deixou uma herança musical muito grande. Essa coisa de tocar, praticar as músicas deles. De tanto ouvir e tocar as músicas dessa banda, você absorve de tal forma, que entra na sua mente e no sangue e você não esquece. Isso possibilita, a partir do momento que você pratica o instrumento, no meu caso, o violão e a viola, procurar formatar de alguma forma original, a minha interpretação para as músicas deles".
Sotaque
Para o cantor, apesar das músicas compostas por John, Paul, George e Ringo terem sido composta na década de 60, melodias, harmonias e letras continuam atuais. "Gravar a música dos Beatles é uma coisa que artistas do mundo inteiro fazem. Então, eu, como nordestino e sem a mínima vergonha de cantar em inglês, gravei essas canções deles com um sentimento profundo, ainda vindo da época que ouvi pela primeira vez. O sotaque nordestino está presente no meu inglês. Não faço nenhuma pronúncia britânica e nem procurei fazê-la em momento algum", conta. "Colocar sanfonas pelo músico Dodô de Moraes que é genial na sua indumentária de sanfoneiro, me ajudou muito a dar uma originalidade às canções dos Beatles", afirma.
Satisfeito pelo resultado do novo CD como produto final, o artista celebra o álbum dizendo ter a condição, hoje em dia, de realizar esses projetos dessa linha de discos "Zé Ramalho Canta" está sendo uma coisa muito valiosa. "Estou muito feliz porque estou mostrando também o meu lado de intérprete. Esse, dos Beatles, são gravações simples, mas, nem por isso deixam de ser valiosas. Algumas pelo tempo que foram gravadas e começaram em 2001 e outras mais recentes, incluídas em projetos que já foram realizados. Juntamos todos esses fonogramas e completamos com essas versões atuais".
O disco "Zé Ramalho canta Beatles" deveria ter sido o primeiro projeto da série, segundo seu autor. O músico não receia as críticas dos puristas quanto ao seu sotaque nordestinos nem ao fato de, por exemplo, transformar o sinfônica "A day in the life" num xote, ou modificar a clássica "While my guitar gently weeps" para um galope acelerado, tudo com muita sanfona e zabumba. "Você não dever ter medo dessa coisa. Para realizar um projeto desse você tem de ter coragem, além do conhecimento e colocar isso como um produto para ser consumido e vendido. O disco veio cristalizar essa mostra de reverência e gratidão que eu tenho para com esses caras que tanto me inspiraram e continuam inspirando tanta gente pelo mundo afora", defende Zé Ramalho.
Nelson Augusto
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